Tema das Jornadas
Pensar sobre o impacto do mundo contemporâneo no ser humano é uma tarefa árdua e difícil, já que nós próprios estamos envolvidos nas vicissitudes desse mundo, vivendo experiências emocionais intensas que, por vezes, dificultam a sua simbolização. No entanto, desde o Mal-estar na Civilização de Freud (1930), que os psicanalistas têm feito o esforço de questionar o impacto das diversas transformações sociais sobre o funcionamento psíquico. A evolução das condições sócio-históricas faz, naturalmente, emergir novas formas de subjetivação e, consequentemente, uma reconfiguração do mal-estar na cultura. O período atual parece caracterizar-se pela presença maciça de novas tecnologias, a rapidez e imprevisibilidade de mudanças, a globalização e a abundância de informação, que, segundo Rachel Sztajnberg (2000), convocam um “excesso de transparência do mundo contemporâneo, que expõe as razões para o mal-estar de uma pessoa não se sentir verdadeiramente a existir... Faltam véus na atualidade”.
O conceito de modernidade líquida, proposto por Bauman (2001), convoca a representação de um tempo no qual as relações sociais, económicas e de produção se caracterizam pela volatilidade, permeabilidade e efemeridade, com repercussões como as que assistimos à escala global e que dão mote ao tema das XIII Jornadas Internas.
Ao dedicar as suas XIII Jornadas Internas ao tema “Psicanálise - Pensar em Tempos Caóticos”, o Instituto de Psicanálise convida-nos a olhar esta temática como uma reafirmação do papel da psicanálise, do seu lugar de garante da continuidade e da permanência face à instabilidade de um mundo em tumulto. Fundamentalmente, gostaríamos de nas Jornadas Internas, convidar os sócios a olhar as mudanças trazidas pelas novas tecnologias, pela globalização, pelo individualismo, pela crise climática, pelo excesso de informação/desinformação e pelas diferentes formas de catástrofes (guerras, catástrofes naturais, etc.) reflectindo sobre o papel da psicanálise face a estes novos contextos/desafios.
As Jornadas Internas, ao convidar a uma pré-análise destas temáticas, englobadas no programa do Congresso da IPA, a ter lugar em Lisboa, em 2025, tem como objetivo contribuir para a dinamização de uma reflexão que se considera necessária e premente, além de, e assim o esperamos, estimular a participação dos sócios no Congresso da IPA, cuja realização em Lisboa muito nos apraz. Podemos também ouvir o título escolhido como uma interrogação: face à magnitude das transformações em curso, pode ainda a obra de Freud servir-nos de guia para interpretar e dar sentido ao mal-estar contemporâneo? Cada momento histórico parece levantar de novo uma interrogação sobre o legado freudiano e sobre as possibilidades que este nos oferece de pensar as subjetividades individuais, as estruturas sociais, bem como as novas formas de sofrimento presentes na atualidade, ampliando o campo do que é dizível.